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Água

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Povoado do Retiro.
Cavaleiro marginal lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvores
Sem querer descanso nem dominical

Cavaleiro marginal, banhado em ribeirão
Conheci as flores e os cemitérios
Conheci os homens e os seus velórios

Texto: trecho de Paisagem da Janela de Lô Borges
Imagem: fotografia de Kleiton Gonçalves

Livros de Arte (Parte X): A Festa, de Ziraldo

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Em 05 de novembro de 1968, houve a quadragésima eleição dos Estados Unidos da América para escolha de seu Presidente. Três eram os candidatos: Richard Nixon (em busca da reeleição), Hubert Humphreye George Wallace. Não é preciso dizer que o republicano Nixon ganhou, para ver sua carreira política afundar, mais à frente, em razão do escândalo de Watergate. Na Embaixada americana em Brasília, na noite das eleições, houve uma festa, onde todos os convidados poderiam beber à vontade, comer cachorro-quente e votar de mentirinha para Presidente. Por telex, a contagem de votos nos EUA iriam chegando. Noutro ponto do Planalto Central, o Presidente da República receberia a Rainha Elizabeth II, no Palácios dos Arcos. Finda a recepção à Sua Majestade, boa parte dos convidados se dirigiram à comemoração norte americana. Ziraldo esteve lá e, em 1969, publicou o livro que compartilho nesta postagem.

Gosto de um pensamento de Saul Steinberg onde se diz que, se os escritores soubessem desenhar, não haveria literatura. Em A Festa, Ziraldo nos deu uma crônica divertida e inteligente daquela noite única ocorrida na Capital federal, apenas com desenhos e poucas palavras. Para entender melhor o momento, assumo que precisei pesquisar um pouco, pois não há muita introdução ao volume (apenas uma breve apresentação escrita por Steven Monroe e meia dúzia de palavras de Ziraldo). Mas, conhecido o momento histórico, é um grande prazer passear por aquela noite na companhia de Ziraldo, um grande humorista - segundo Steven Monroe, "um dos melhores do Brasil e do mundo".

Consegui meu exemplar em um sebo, autografado e com dedicatória. Acredito que ninguém se livraria de um volume desse. Creio que foi "pilhado" de alguma biblioteca após a morte do proprietário. Um livreiro esperto sem dúvida alguma compraria um "livrozinho encardido e sem importância como esse", certamente pagando uma ninharia. Uma pena o que fazem com livros de uma família, após os falecimentos de alguns de seus membros. Gostei, em especial, de ter encontrado o exemplar em muito bom estado, inclusive com a sobrecapa; e esta é importante, considerando que o encadernado não tem ilustração impressa na capa dura. O papel é de ótima qualidade e não amarelou demais com o tempo. Um jóia em minha coleção! Adoro essa obra magnífica de um autor genial.

Não vou escrever tanto aqui, pois noto que pouca gente se interessa por postagens longas. Assim, seguem imagens desse volume, onde algumas legendas explicativas se fazem necessárias. Sei que o cartum morreu, assim com a pubicação de livros de arte vem dando seus soluços finais. Mas recomendo conferir um pouco desse trabalho pontual de Ziraldo.






Painel com os antecessores de Nixon na Presidência dos EUA.
HHH eram as iniciais do candidato Democrata, cujo símbolo é o burro.
O casal queria mesmo ter ido à festa americana, mas foi parar na recepção à Rainha.
"Zi Quin" seria a Rainha (Queen) Elisabeth II. Esse é nosso Presidente Costa e Silva.

Sufoco de opções em um Brasil onde não havia nenhuma.
Philip é o marido da Rainha, que a acompanhou na visita ao Brasil.
A grande sacada é o hippie pichando o muro do lado de fora.
Interjeições!


Quando os convidados das duas festas começaram a se misturar.
Até o Tio Sam deu as caras.
Até a Rainha foi à biritada.
Pode ser um rato, mas o gato ficou com medo desse ícone poderoso de uma poderosa nação.
Brasileiro bêbado é sempre empata-foda.
A comida da festa, além de salgadinhos e amêndoas, era mesmo cachorro-quente.
Fim de festa. Penúltimo cartum do livro.
E o resto é História!

Vamos fazer um filme

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Keir Dullea e  Stanley Kubrick na produção de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968).

Lembranças de morrer

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Imagem: Bruno Dayan
Ainda pensei nos coitados dos funcionários que limpariam toda a sujeira de meu sangue e miolos no piso, deck e banheira. Depois, não me preocupei porcaria alguma. Eles que se virassem. Nunca gostei desses mal educados que atendem em hotéis e motéis. Nem de garçons. Nem de arrumadeiras. Nunca gostei de meus vizinhos e colegas de trabalho; na verdade, de ninguém.

E o dono do motel que desse suas cambalhotas com a polícia e má repercussão de meu suicídio. Sempre me cobraram uma fortuna naquele pulgueiro. Desta vez eu daria prejuízo e um belo calote.

Jamais poderia estourar a cabeça em minha casa, sempre limpa, perto de meus gatos e cachorro. Nem de minha mulher. A contribuição dela, para minha morte, foi mínima. E sei que, mais à frente, ela morrerá mais sozinha do que eu (assim espero!).

Em algum lugar distante, escondido, também não poderia me matar. Muito menos dentro do carro, sempre bem cuidado. Sabia que sentiria um grande momento de paz e conforto nos últimos momentos, e precisava aproveitar ao máximo, como fiz. No escritório, nem pensar; com pessoas conhecidas, depois, comentando como fiquei asqueroso com um baita rombo na cabeça?

Entrei na água. Relaxei. Tomei apenas três doses de vodca. Achei que deveria deixar um pouco no copo, para a eternidade. A água estava no ponto certo: nem fria nem quente. Morna. Fechei os olhos e relaxei tanto. Nunca me senti tão bem em toda a minha vida. Quase adormeci, antes de esticar a mão para o lado, pegar o velho cano enferrujado e disparar contra a cabeça.

Bem na cabeça. 
Emporcalhou tudo.

Texto: Kleiton Gonçalves

Nova edição de Reino do Manhã [HQ]

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Imagens de minha edição (publicada em agosto de 2004).
Reino do Manhã vem aí, novamente, pela Panini. Desta vez, numa edição definitiva com quase cem páginas de extras desnecessários que só farão o volume encarecer mais ainda. Felizmente, não comprarei essa edição, pois tenho a anterior, em brochura, sem supérfluos que só servem como desculpas para enfiar as mãos em nossos bolsos. Gosto de papel bom nas publicações, pois melhora a fruição estética em relação à arte. Também gosto de capa dura, pois ajuda na conservação do exemplar. A durabilidade é muito maior. E, além disso, fica bonito! No entanto, fujo e edições com extras desnecessários. Já falei um pouco sobre isso, aqui no blog, como nas postagens que listo abaixo.

Mas, para quem não conhece Reino do Amanhã, recomendo que comprem. Kingdom Comeé a melhor obra do selo Elseworlds, um trabalho que combina o excelente roteiro de Mark Waid sobre uma história concebida por Alex Ross. Já a arte de Ross não pede maiores comentários.

Para conhecer mais acerca da trama, basta acessarem diversos press releases que circulam por aí!

Postagens relacionadas:
Justa homenagem.

Malu – Memórias de Uma Trans [HQ]

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O gibi Malu – Memórias de Uma Trans me chamou atenção, nas imagens que vi em sites e no Facebook, pelo formato. Não me parecia um formatinho, nem tampouco uma edição formato americano ou magazine. A capa de um rosa choque bem gay também ficou bonita e tem tudo a ver com o conteúdo. A primeira atração, pois, foi estética. Vi, também, que o responsável pela HQ era Cordeiro Sá, artista gráfico que se tornou mais conhecido após seu trabalho com a coletânea RPHQ (Ribeirão Preto Quadrinhos). No Blog do Urso, pedi informações ao Fabiano sobre onde comprar a publicação, descobrindo que ela tem distribuição gratuita e que, como ele possuía cópia sobrando, me mandaria. No dia 03 deste mês, chegou pelos Correios meu exemplar, que foi devidamente lido. Achei relevante comentar acerca da edição – tanto porque gostei como, ainda, pelo seu caráter didático.

A ideia para a obra nasceu de conversas entre o autor e a atriz transexual Alessandra Leite, mas tomou forma com a consultoria técnica de outra trans: Ágatha Lima. O projeto teve o apoio da Atômica Filmes e recursos financeiros da Secretaria municipal da Cultura de Ribeirão Preto (Programa de Incentivo Cultural 2012).

Tenho poucos amigos transexuais (de acordo com a própria HQ, termo que engloba travestis, transexuais, andróginos e hermafroditas). Conheço alguns em Recife (nem sei mais por onde andam, pois a maioria se cansa de ralar no setor de beleza e estética e ruma à Europa, onde geralmente ganha-se bem com serviços "eróticos"). Na cidade onde vivo há alguns anos, no Estado do Piauí, o número é bem mais reduzido – talvez pelo fato de ser um pequeno Município. Malu não é a biografia de nenhuma transexual específica. Seria, a princípio, a biografia de uma trans “padrão”, resultado de pesquisas do autor, de conversas colhidas e de consultoria “técnica”, por assim dizer. É fácil, para quem tem amigas transexuais, encontrar ressonâncias entre a história narrada e os relatos que ouvimos pessoalmente.

O acabamento é bacana: capa em cuchê de elevada gramatura e o miolo é papel similar ao offset. São 42 páginas no formato não usual de 21,0 x 27,5 cm. Não se tratam apenas de ilustrações e texto, mas de um trabalho gráfico que utiliza fotografias para os cenários e personagens desenhados. Essa técnica não é nova em histórias em quadrinhos, mas não é de uso tão constante. Há décadas, Saul Steinberg já utilizava o método em alguns cartuns e nas graphics já exploraram a técnica, como no caso da série O Fotógrafo (Lefèvre, Guibert e Lemercier), embora de maneira um pouco mais diferente. Achei a arte competente; pena que a HQ é em P&B. Quanto ao roteiro, achei-o um pouco superficial, à primeira vista; assim como bem pouco ousado. No entanto, considerando tratar-se de uma publicação com finalidade quase pedagógica, informativa, é natural que tenha esse aspecto mais “suave”. Umberto Eco sempre destacou a relevância das histórias em quadrinhos como importante instrumento de comunicação de massa; neste caso, foi o que conseguiram fazer. Posso dizer que é uma HQ quase institucional (até mesmo pelo fato de haver injeção de recurso público em sua produção), mas que nos agrada bastante pelo viés artísticos, numa leitura descompromissada, para quem é fã de quadrinhos.

Não sei bem o porquê, mas quando estava na metade da leitura me recordei da graphicPersépolis da iraniana Marjane Satrapi. Enquanto esta premiada narrativa gráfica nos conta sobre a vida da autora (e, de rebote, um pouco da história social e política do Irã); Malu também se propõe a narrar a jornada de amadurecimento físico e espiritual de alguém que poderia, muito bem, representar quase todas as transexuais deste País. Além disso, acho que a arte também ajudou a me remeter a Persépolis: figuras com traços simples, aspecto lânguido e membros desarticulados que mais parecem fitas soltas ao vento.

É uma pena que a distribuição seja restrita e que não haja venda on line, mesmo que a preço módico, de custo (frete, etc.). No entanto, se alguém tiver a sorte de conseguir um exemplar, recomendo a leitura. Vale a pena. Poderiam disponibilizar um formato digital, com boa resolução, para download. E, novamente, grato ao Fabiano!



Gostei e compartilho

Sobre HQs em geral e novos rumos para este blog

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Algumas coisas me assombram nas publicações atuais. De Turma da Mônica nem vale a pena falar muito. Mas é que o último número da dentuça é, no mínimo, de lascar. Se não bastasse ver nas bancas as "loucas e divertidas aventuras" de Neymar e sua família (algo muito interessante, hein?), teremos, neste mês, uma nova estrelinha do axé no Limoeiro. Trata-se da Claudinha Leite, acompanhada de sua família bonitinha. É o Maurício de Sousa Produções dando atestado de mau gosto musical e jogando mais uma pá de terra sobre algo que já foi bom. Não entendo como se conseguiu destruir rapidamente uma criação que já foi tão especial quanto Turma da Mônica.

Hoje, com dinheiro no bolso, vá a sebos comprar edições das fases Abril e Globo da Turma. Ou acompanhe a Coleção Histórica. Mas também temos as opções de ler Disney e alguns títulos Pixel/Ediouro. O problema das publicações desta última, no entanto, é que são "aparições sinistras": pouca gente garante que já viu por aí, à venda, em se tratando das especiais. A Pixel publica seus mixs de histórias clássicas, Luluzinha (inclusive a versão teen) e Bolinha regularmente. E inventou de editar volumes especiais da Luluzinha e, mais recentemente, de medalhões como O Fantasma e Mandrake. Acontece que esses especiais chegam a poucas localidades. São raros os casos, na internet, onde o sujeito relata ter encontrado essas obras em banca. Alguns sites também ganham exemplares, para fins de divulgação. Já a compra on line é quase impossível, também (e haja bolso para o frete!). Assim, a grande maioria dos fãs de HQs ficam a ver navios. Souberam entupir as bancas com as porcarias da Harvey; mas sacaneiam com os leitores da maior parte deste imenso País quando não distribuem com eficiência o que realmente é bom. Quando distribuem com até seis meses de atraso, é refugo que, na maioria das vezes, chega detonado. Parei de comprar Bolinha e Luluzinha definitivamente. Meu dinheiro, não verão mais.

Quanto à Abril, também cansamos de vários tropeços. Chateia ver gibis bons como UFFO e Garoto-Vivocancelados sem maiores informações (e os babões da editora ainda dizem que a Panini nos falta com atenção!). Aí, depois de um tempo, inventam um novo concurso de personagem apenas para colocar nas bancas outra HQ que - como notamos em vários sites - tem tudo para o insucesso. Essa é a mesma Abril que se recusa a reeditar a coleção Barks, Mestres Disney e obras famosas como A Saga do Tio Patinhas. Os fãs disneyanos querem comprar esses volumes: mas só lhes restam os gibis vendidos a preço de ouro (coisa de gente delirante) nos "mercados livres" da vida. Aí, quando anunciam HQs de luxo, aos invés de pensarem em Don Rosa ou Gottfredson, o que fazem? Encadernam um treco chamado Dragon Lords (!). A Panini ao menos abriu os olhos e está sempre renovando os clássicos para livrarias; esgotando, reedições surgem até rapidamente. Reduzirei minha compra de títulos Disney a poucos especiais e temáticos.

  

Passei muito tempo sem ler HQs infantis mensais. Havia abandonado Turma da Mônica, Disney etc.. E voltarei a fazer isso, gradativamente. Retornarei aos meus encadernados adultos e colocarei em dia o selo Vertigo, além das independentes que sempre cato por aí, bem como os caprichado volumes da Devir e Quadrinhos na Cia. E também quero colocar meus livros em ordem. Tenho muita coisa para ler (poesia, contos e romances). Ainda comprarei alguns especiais Disney que me agradem, a exemplo dos temáticos (como já disse acima). Ficarei com a Coleção Histórica Turma da Mônica e, em sebos, ainda continuarei comprando publicações da época em que o Maurício era "O Cara". Certamente, gostarei de compartilhar exemplares adquiridos em sebos (de que editora for, de qualquer títulos). No entanto, nada de novidades de bancas ou livrarias em formatinho. Às bancas, irei para comprar miniaturas Marvel, algumas de veículos e de coleções diversas que às vezes surgem. Também gosto de comprar alguns encadernados Panini em banca; esses dias, por exemplo, comprei Batman: Arquivo de Casos Inexplicáveis.

Diante de algumas decisões tomadas, pararei, aqui, de escrever sobre mensais, lançamentos etc.. Retornarei às origens. Esse meu blog terapêutico servirá para compartilhar gibis velhos que gosto, resenhas de livros, comentários a filmes, fotografias, alguns trabalhos autorais e colecionismo em geral. A princípio, eu faria isso apenas com títulos MSP, Disney e Pixel. Mas adotarei essa postura com todo tipo de publicação. Acredito que, com isso, darei até mais qualidade a este espaço, postando menos e meditando mais acerca do que postar. Este blog, enfim, não conhecerá novos rumos (essencialmente); apenas voltará a ser o que era.

Tanto "mimimi" nesta postagem é apenas um ponto de vista pessoalíssimo. Não tenho a intenção de criticar o gosto alheio, de quem compra, regularmente, as principais mensais aqui citadas. É apenas algo que não dá mais para mim. Mas, também, sei que meu gosto não é pior ou melhor do que o de ninguém. Essas coisas não se põem na balança. Também não me oponho a quem continua a divulgar os principais lançamentos do mês em seus blogs. Afinal, fiz isso muito tempo. E sempre acharei bacana acompanhar novidades, checklist e outras postagens semelhantes nos espaços amigos. Também trata-se apenas uma conduta que também me cansou um pouco, por achá-la meio repetitiva, infrutífera.

Quanto à parte de lançamentos de miniaturas etc., continuarei a divulgar e a compartilhar o que encontro com os colegas, pois é uma área que anda me agradando bastante, como colecionador. Espero, aliás, bastante sucesso e maior crescimento no setor. E a divulgação ajuda.

Por enquanto, é isso.

Abraços!

Créditos: DeeK-MantooF & Miss Kimmer


Não adianta espernear! Imagem: Fabiano Caldeira.

Arqueiro Verde em duas versões

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Postando uma imagem de meus Arqueiros. O da esquerda é todo em chumbo, da coleção de miniaturas de heróis da DC pela Eaglemoss e representa uma versão mais Robin Hood do alter ego do rico e desocupado Oliver "Ollie" Queen. O da direito, em plástico e articulado, é da Mattel, vendido em cartelas com três personagens cada uma. Difícil dizer qual eu gosto mais. Sou mais fã de estatuetas do que de figuras articuladas. Mas o volume de detalhes que conseguiram inserir no boneco de plástico é bem maior. Resolvi postar essa figura porque foi a última que chegou da coleção de miniaturas DC, juntamente com o Robin. Para quem gostou e não assina, acho que esses dias aparece nas bancas. O Robin já está há vários dias.

Coleção de Miniaturas Marvel n.º 33: Homem de Gelo, já nas bancas

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Acessível em maior resolução.
Ontem comprei Robert "Bobby" Louis Drake, mais conhecido como Homem de Gelo dos X-Men. Gostei da figura. Sei que a pintura emulando gelo não ficou essas coisas todas. Mas é difícil reproduzir, numa imagem em chumbo, a cor do gelo. Considero o resultado satisfatório. O único defeito da figurine está na mão direita: os dedos ficaram tortos. Não sei se o problema é apenas em meu exemplar, contudo. De qualquer forma, pesquisei imagens em alta resolução na internet e vi, em todos os exemplos, a mão perfeita. Provavelmente, algum lote saiu com defeito, o que não é incomum. Mas não é nada que desabone o conjunto. Abaixo, disponibilizo a revista escaneada em ".pdf".

Revista Marvel Miniatura Eaglemoss Blog Neofito Homem de Gelo 33 by Kleiton Gonçalves

O ex-libris de Edgar Rice Burroughs

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Ex-libris são selos criados por particulares e instituições para indicar a propriedade sobre exemplares de livros. É uma prática antiga. Há séculos utilizam esse meio de identificação que, com o passar dos anos, evoluiu para carimbos e adesivos. Muita gente com grandes coleções ainda contrata os serviços de artistas para criar "o seu" ex-libris. O ideal é que a imagem da estampilha contenha aspectos que, realmente, dizem respeito ao proprietário. Quem gosta de gatos, por exemplo, sempre dá um jeito de utilizar bichanos na figura. Já comprei livro usado com ex-libris e até me deu um certo prazer em ter aquela edição marcada pelo dono anterior (só não gosto de assinaturas à caneta e riscos diversos). Por mais que goste desses selos, não penso em usá-los, pois daria muito trabalho para colar em todos os meus volumes. Enfim.... esses dias, à toa na internet, vi o ex-libris de Edgar Rice Burroughs e gostaria de compartilhá-lo aqui. Além de bonito, é perfeito, pois reúne destacados elementos da obra de Burroughs: referências aos principais personagens por ele criados Tarzan e John Carter.
Tarzan segura o planeta Marte.

Fichário da coleção de miniaturas de super-heróis "DC" da Eaglemoss

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Além de um desconto sobre as edições, os assinantes das miniaturas DC e Marvel da Eaglemoss ganham brindes exclusivos, como estatuetas especiais, fichários e porta revistas. Noto que muita gente tem dúvidas sobre esses últimos dois "agrados" da editora. Então, aqui, mostro um pouco como eles são. O fichário é perfeito e fácil de montar. A cada nova revista, é só prendê-la na lombada. Como não cabem todas, também enviam um porta revistas fraquinho, em papelão, porém bonito. Para quem nunca viu e ficou na dúvida se vale a pena, basta conferir as imagens a seguir, que podem ser acessadas em maior resolução.






Ah, esses gibis sacanas...

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Esses dias estava lendo e relendo várias histórias desenhadas por Flávio Colin, quando vi Hora da Saudade, escrita por Carlos Magno. Rachei de rir com várias passagens e quero, aqui, compartilhar o trecho abaixo. Na trama, um casal de idosos sai em segunda lua de mel e hospeda-se no mesmo hotel onde fizeram amor pela primeira vez. Rola uma discussão entre o número correto da suíte. O homem acredita que deveria ser o n.º 130; mas a esposa, com ótima memória, recorda, com bastante certeza, ser o n.º 120. E mulher tem sempre razão (dizem). Ah, como eram boas essas histórias descompromissadas, encartadas em títulos diversos, no auge da produção nacional de HQs adultas, como Calafrio, SpektroMestres do Terror.

Impressiona o ar de orgulho com o qual ela recorda o belo momento.

As flores de plástico não morrem (mas não têm graça alguma...)

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A temperatura média, à tarde, está em 41ºC, na Cidade onde resido há anos. Há uma vantagem em viver aqui: não sofro mais com sinusite. E, mesmo com tanto calor, as plantas de casa continuam florindo, embora os gatos sempre ponham em prática seus planos de destruição de toda a flora que encontrem pela frente. Abaixo, fotos que retirei agora há pouco: hortênsia e jasmim-manga.



Esta é a verdadeira História do Paraíso, de Millôr Fernandes

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Já comentei umportfóliode Millôr Fernandes aqui no blog. Sou grande admirador desse artista de inúmeras facetas e de seu refinado bom humor. Sua perda foi lamentável; mas, ao menos, não prematura. Aproveitamos muito de seu talento, em sua extensa produção artística e literária. Desta vez, quero mostra minha edição de Esta é a verdadeira história do Paraíso, uma narrativa ilustrada que toca na sensibilidade religiosa de muita gente e que, no passado, levou a um grande desentendimento entre o Millôr e a revista O Cruzeiro que, no desenrolar de tudo, acabou envolvendo ainda dezenas de profissionais da área de comunicação. Sobre o fato, transcrevo palavras do próprio autor, abaixo.
A Verdadeira História do Paraíso foi escrita aos poucos, ao acaso, frases soltas, conceitos ocasionais que me ocorriam enquanto fazia, semanalmente, através dos anos, na revista O Cruzeiro, a seção humorística O Pif-Paf ("Cada número é exemplar. Cada exemplar é um número").
Um dia, no fim da década de 50, não me lembro exatamente quando, num programa de televisão que eu apresentava pessoalmente em Belo Horizonte, estimulado por meu fraterno amigo Frederico Chateaubriand, contei, ilustrando com desenhos, a história completa pela primeira vez. Não sei se houve algum protesto, há sempre, mas a TFP não se desmoronou, o país continuou a avançar nos seus precários trilhos (bitola estreita), e o sol prosseguiu nascendo e morrendo a espaços aproximados de 12 horas.
Posteriormente, a história foi apresentada, também, na TV Tupi do Rio, e num espetáculo teatral, Piftac-Zigpong, antes de ser vendida como matéria especial com contrarecibo e pagamento adiantado, pois eu conhecia bem a administração da empresa, para a revista O Cruzeiro, em maio de 1963. A revista, creio que por motivos de programação, só publicou a história seis meses depois, em outubro, ocasião em que eu viajava pela Europa. Uma noite, estando numa festa em Lisboa, me lembro de que havia, na festa, uma ilustre companhia, desde a senhora Princesa da Fátima à não menos senhora condessa de Paris, pois eu, Proust e Ibrahim Sued estamos sempre nessas, o cantor Juca Chaves se aproximou de mim com aquele ar satânico de quem vai anunciar a repetição do terremoto de 1755 e perguntou: "Você viu o que O Cruzeiro escreveu contra você?" Vi no dia seguinte, na embaixada.
Na primeira página da revista, na qual eu tinha trabalhado 25 anos (seis meninos, tínhamos elevado a vendagem da revista de 11.000 a 750.000 exemplares semanais, a maior da imprensa brasileira em todos os tempos) havia um incrível editorial contra mim, naturalmente não assinado, no qual se dizia que eu tinha publicado a história, dez páginas em quatro cores (!), sem conhecimento da redação, da secretaria e, conseqüentemente, da direção do semanário. Acho que o fato é inédito na história da imprensa e da pusilanimidade internacional e só foi mesmo possível devido ao caos moral em que se transformaram os Diários Associados, desagregação essa que, pelo gigantismo da organização, influenciou, e influencia ainda hoje, no pior sentido, a imprensa brasileira.
Não houve nada mais deletério, mais deliqüescente, do que aquele espírito jornalístico, que continua, como um miasma, a atuar sobre a presente geração. O editorial mandado publicar contra mim na revista O Cruzeiro, por seu diretor Leão Gondim de Oliveira, causou tal indignação nos meios profissionais que produziu efeito contrário ao esperado: num jantar de desagravo que me foi oferecido compareceram, representando oficialmente as empresas que dirigiam, os diretores e presidentes dos maiores veículos de comunicação do país: rádios, tevês, jornais, sindicatos, revistas, editoras e mais de duas centenas de jornalistas e escritores do Rio e de São Paulo. Uma demonstração maciça de imprensa contra imprensa quase impossível de se repetir.
Por que a revista O Cruzeiro escreveu o editorial contra mim? Simples; publicada na revista a história deste livro, aliás ainda mais inocente, pois fiz, no livro, algumas alterações, coisa natural, vividos tantos anos de permissividade, a empresa sofreu uma certa pressão de alguns carolas do interior, exatamente 36, como consta do processo trabalhista, o suficiente, porém, para apavorar a proprietária da revista, dona Amelia Whitaker Gondin de Oliveira, carolíssima. Não tendo argumentos com que apaziguar os pobres diabos que passavam, para ele, por "representantes da igreja" - isso mesmo, como Cristo e como o Papa - o diretor da revista achou mais fácil me atacar à distância, servindo-se de minha ausência. Típico. Como típico também, com referência à igreja de então, caindo pelas tabelas de gagá, é o fato de, no meio de 112 artigos escritos indignadamente contra o semanário associado, no meio de centenas de telegramas de solidariedade, no meio de incontáveis demonstrações pessoais de apoio, eu não ter recebido nem uma palavra favorável de um líder, um prelado ou um pensador católico.
Conto isto como um simples e necessário registro, pra que o leitor conheça a origem deste texto, as vicissitudes por que já passou, conto, em suma, a história desta istória. Ganhei, naturalmente, a ação judicial que fiz contra O Cruzeiro. A violência evidente teve que ser reconhecida até pela burocracia seiscentista da trôpega justiça trabalhista brasileira. Por isso continuo aqui, gordo e feliz (mentira, só feliz) enquanto a revista e seus editores morriam de cirrose ética dois anos depois. Moral, meus filhos: a justiça farda, mas não talha.
O rebuliço tem sua razão de ser. Durante toda a história, encontramos “um Deus” guiando sua criação da maneira menos sensata possível. Por que criar a vida tão bela que pode ser destruída de maneira tão cruel e sofrida até por seres microscópicos como vírus e bactérias, por exemplo? E os desastres naturais? Nas ilustrações, “Deus” sempre está mascarado. Embora sua face seja a de um bom velhinho, vemos, por trás de sua cabeça, o barbante que a amarra. Ao final do livro, o autor conclui:
De qualquer forma, porém, dentro e fora do Paraíso, o Mundo não foi realmente uma criação sensata, feita com estudo e cálculo. Tem lá seus momentos de magnífica inspiração, tem lá seus pôr-de-sol, suas auroras, mas o Senhor, de modo geral, fez tudo precipitadamente, num terrível exemplo de improvisação, de deixa-que-é-mole, de jeitinho, que até hoje os urbanista, prospectistas e futurólogos continuam imitando. No caso do Todo-Poderoso porém não há qualquer justificativa. Ninguém lhe deu prazo, ninguém lhe encomendou nada, não tinha data de entrega.
Após esse trecho, Millôr aponta para “Deus” e faz a acusação final: “Essa pressa leviana / Demonstra o incompetente: / Por que fazer o Mundo em sete dias / Se tinha a Eternidade pela frente?”. Após isso, o Senhor sai de cena desconfiado e, escondido de todos, retira a máscara: era, todo o tempo, o Diabo fantasiado. Ainda não sei como algo tão bobo pode ferir a sensibilidade de tanta gente. O objetivo não foi atacar o deus de nenhuma religião; mas somente criticar algumas "inconsistências" de nossa existência tão obscura e, até mesmo, alfinetar o "tinhoso".

Já encontrei uma brochura do ano de 2006, editada pela Desiderata, para a venda. Meu exemplar é uma edição de 1972 em capa dura da Livraria Francisco Alves Editora S/A, com diagramação e supervisão gráfica de outro grande artista gráfico: Caulos. As páginas, não numeradas, tem ótima impressão em razão da elevada qualidade do papel. Tamanho: 21,0 x 28,0, com prefácio do próprio autor (o texto reproduzido acima!). Se você encontrar esta publicação em sebo, compre. Vale a pena.
Anotação curiosa do proprietário anterior.
O arquiteto do Universo retira a máscara.
A comoção dos anjos ao ver a primeira mulher nua: e ela ficou bem dotada.
Nasce a moda.
A cabra é uma cortesia de Pablo Picasso.

Um pouco acerca da coleção de miniaturas "Betty Boop"

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Minhas bonecas.
Acho a Betty Boop Show Collection uma péssima ideia da editora Salvat. Há pouca gente interessada nesta coleção. O grande equívoco da série é a repetição: é só de Bettys, com trajes e poses diferentes. Acaba por tornar-se cansativo. Ao invés disso, poderiam ter apostado em miniaturas de outros personagens animados pelos estúdios de Max Fleischer, como, por exemplo, Popeye. Seria legal em um segundo número, por exemplo, adquirir uma figura diversa da Betty Boop. Apenas um grande fã dessa garota liberal é que comprará todas as edições, ainda mais considerando a elevação constante de preços.

A coleção já está chegando à cidade onde moro. Eu havia comprado o primeiro número na Banca do Paulo Gibi, com receio de não chegar por aqui. Acabei ficando com os dois primeiros números, em razão do baixo preço que compensava. Mas é só. As demais, não comprarei.

Para quem não acompanha a coleção, destaco a presença, em cada revista, de uma HQ clássica com a personagem. A reprodução é de acordo com o original publicado em formato tabloide, em inglês. As traduções de balões e recordatórios ficam abaixo, como rodapé. São histórias simples, meio bobas, mas até legais. Além das HQs, sempre disponibilizam uma pin up da Betty em página inteira e informações históricas da personagem. Abaixo, vocês podem conferir esses quadrinhos e as pin ups. Também escaneei a imagem com a galeria de amigos da Betty, criados pelos irmãos Fleischer. E me pergunto: por que não fazer uma coleção com todos esses personagens, ao invés de ficarem repetindo a Betty em todas as edições? Realmente, tenho dificuldade em compreender muita coisa desse meio editorial.



Obras de Umberto Eco, O Nome da Rosa e sua adaptação para o cinema

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Capa de minha edição de O Nome da Rosa e, atrás, os outros cinco romances do autor italiano.
Deixo esta escritura, não sei para quem, não sei mais sobre o quê:
 stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus.

Não posso nem lamentar quando vejo um monte de gente descendo a lenha em Umberto Eco apenas porque considerou alguma ficção sua extremamente "chata" em razão do excesso de erudição empregado. Eco, erudito, é um dos maiores intelectuais vivos deste planeta moribundo onde sobrevivemos, com uma longa experiência catedrática e que só se atreveu a escrever ficção quando se sentiu maduro para isso, já com quase meio século de vida. Ele não pode inventar tramas bobas cheias de loucas e radicais aventuras, sexo gratuito ou vampiros meigos apenas para agradar. Se o sujeito tem a cabeça lenta ou é incapaz de se esforça um pouco para ler uma obra mais densa, que exija até certa pesquisa histórica e literária, tenha a vergonha de não culpar o autor. Ele é inocente.

Por que escrevi o parágrafo acima? É que li recentemente O Cemitério de Praga - último romance escrito pelo italiano que penso em resenhar mais à frente - e andei conferindo "resenhas" e "críticas" em sites escritos por fãs da péssima literatura moderninha que entope as prateleiras das livrarias. Praticamente todos os espaços visitados "não indicam" a leitura deste recente livro. Impressionante. Fãs de Stephenie Meyer, Meg Cabot, George R. R. Martin, J.K. Rowling, Erika Leonard James e Dan Brown atacando a produção ficcional de Umberto Eco? É mesmo o final dos tempos! E, sim, como estão criticando abertamente bons autores (o próximo ao apedrejamento talvez seja Machado de Assis, vai saber...), não tenho pudores em dizer - com base não apenas em gosto pessoal, mas, sim, em arcabouço literário e anos de leitura - que esses autores de "modinha" produzem bosta quase hollywoodiana. Querem falar mal de Eco, Thomas Mann, Thomas Pynchon e Hermann Hesse em seus blogs? Ok. Não vou lá criticar. No entanto, no meu espaço serei bem franco sobre a oligofrenia pseudo-literária que se multiplicou como baratas (ou erva-daninha?) nos últimos anos.

Como falei no início, não posso nem lamentar. É que está tudo indo para o inferno e a qualidade de nossa educação encontram-se, a cada dia, no fundo do poço. Se um autor usa mais de seis palavra num mesmo período, a cabeça do leitor já fica confusa e ele põe o livro de lado, maldizendo por aí que a obra simplesmente não presta. Além de cansar lendo grandes períodos, muito preguiçoso também não aceita encontrar, numa obra, referências (especialmente as históricas). É que cansa a cabecinha e, assim, é mais fácil atacar o autor de "pedante". Pedantismo seria se a obra fosse limitada a um desfile gratuito de conhecimento, até mesmo fajuto. Não é o caso de Eco, onde a grande maioria de seus leitores busca justamente essa amarração oportuna, eficiente e até mesmo divertida de informações. Hoje, com o São Google, é tão fácil pesquisar essas referências!

Quando procuramos Umberto Eco (ou ele nos encontra?) queremos isso: uma boa trama, bem construída sobre pesquisa consistente por um dos cérebros humanistas mais capazes de nosso século. Queremos informação, mesmo que, a princípio, pensemos que não a queríamos. O leitor de Baudolino (2000) não esperava encontrar tantas referências míticas (creio) ao iniciar-se na leitura. Mas e daí? Acaso ele precisa descartar a leitura em razão das mais de cem de páginas de como seriam, no imaginário medieval, as terras de Preste João no Oriente? "Ah, dessa informação eu não preciso; deixarei de ler...". Sempre são bem vindas e oportunas as demonstrações exacerbadas (sim!) de Eco sobre história, estética, teorias mirabolantes e conspiracionistas etc.. E sempre haverá um público afim a vários momentos das tramas, de acordo com tema abordado. Particularmente, gostei de cada trecho em O Nome da Rosa acerca da confecção de livros, tratamento de pergaminhos etc., pois me interesso por bibliofilia e encadernação, entre outros temas correlatos. Entre teorias gerais do complô e de conspirações mundial presente em O Pêndulo de Foucault (1988), encontrei a melhor abordagem ficcional sobre o sincretismo brasileiro. Posteriormente, conhecendo um pouco mais de terreiros de umbanda e de candomblés, puder "medir" - por assim dizer - o elevado nível de comprometimento histórico e literário do autor com o leitor. Umberto Eco não publica falcatrua. Que ele continue me destilando pedantismo em mais obras. Infelizmente, sua idade avançada indica que, talvez, não tenhamos outra obra de ficção após O cemitério de Praga (2011).

Enfim, vamos a O Nome da Rosa, romance de estreia de Umberto Eco na ficção. Até então, este autor já era reconhecido por sua extensa produção acadêmica, em especial no ramo da Semiótica. Quanto à escolha do título, há suposições. Embora ligue-se diretamente à última citação na narrativa, uma possível corruptela a verso mais conhecido em razão de Bernard de Cluny (transcrita acima, em epígrafe a esta postagem), também possui estreita relação com o amor de Adso de Melk (narrador da história) e a única mulher que chegou a ter em sua vida: uma camponesa miserável que residia próximo à Abadia onde todos os "eventos miríficos e formidáveis" que dão corpo à obra ocorreram. Sobre a mulher, Adson testemunha:
"Do único amor terreno da minha vida não sabia, e nunca soube, o nome".
A trama, sucintamente: em um monastério situado ao norte da Itália algumas mortes sem explicação aparente são atribuídas à presença demoníaca no local ou às revelações do Livro do Apocalipse. Estamos no século XIV e, neste mosteiro beneditino haverá um encontro entre franciscanos e uma delegação papal para discutir a necessidade de acúmulo de riquezas por parte da Santa Igreja. Entre os franciscanos está Guilherme de Baskerville, monge pensador e erudito que preza pelo raciocínio e dedução, acompanhando de seu aprendiz e escrivão Adso, filho do Barão de Melk. Por espírito inquisidor, amor à verdade e ao emprego da lógica, Guilherme empreende investigações em busca de um culpado "carnal" para aquelas mortes, ao tempo em que tenta descobrir os mistérios que rodeiam a quase inacessível imensa biblioteca ali sediada, trancada à sete chaves.

A obra tem uma estrutura peculiar: é divida em dias (sete, no total) e estes são divididos em períodos correspondentes às horas litúrgicas (Matinas, Laudes, Prima etc.). Esse formato segue o manuscrito de Adso, narrador da história da qual fora testemunha. Umberto Eco nos diz, no Prólogo, que este manuscrito foi organizado posteriormente por um certo abade Vallet e que, em 1968, o autor teve contato com o material. Sob cada subdivisão das horas litúrgicas foram inseridos subtítulos em terceira pessoa, provavelmente por Vallet. Cada subtítulo sintetiza o que acontecerá nas próximas páginas. A "mentira" de Eco acerca da procedência da história ajuda o leitor a ingressar no clima de mistério da trama.

A narrativa é recheada de precisão histórica, em especial quanto a costumes medievais. Falando em referências, Umberto Eco escolheu bem os nomes de seus personagens. Guilherme tem o seu em referência clara ao homônimo de Ockham (mencionado no livro, dentro dos diálogos), pensador lógico que criou a teoria da Navalha de Occam e ao livros Os Cães de Baskerville, escrito por Conan Doyle e protagonizado pelo detetive Sherlock Holmes. Jorge de Burgos, por sua vez, remete ao escritor argentino Jorge Luis Borges. A própria biblioteca em forma de labirinto representa um dos aspectos da obra do autor cego, em especial pelo seu conto intitulado A Biblioteca de Babel.

Durante os sete dias de permanência de Guilherme e Adso na abadia, várias mortes ocorrem, com algo em comum: todas as vítimas tem manchas negras nos dedos e na língua. As disposições dos corpos, em alguns casos, chamam atenção, como se, no post mortem, alguém os manipulasse. Exceto pela primeira morte, ocorrida antes da chegada dos protagonista ao local, todas as demais, relacionadas, tratam-se de assassinatos. E, mesmo no caso da primeira (um suicídio), há uma correlação.

Cuidado com "spoilers" a partir daqui. Aos poucos, descobrimos que as respostas às mortes ocorridas ligam-se à biblioteca. Mais precisamente, ao que ela encerra. Uma encadernação com textos em árabe, sírio e grego. Indicada no códice de consulta em poder do bibliotecário Malaquias, de acordo com a data de aquisição e origem, dão a Guilherme pistas decisivas para solucionar o que está acontecendo. No entanto, sua entrada na gigantesca e labiríntica biblioteca é vedada. A biblioteca era a única fonte de pesquisa e de conhecimento, de maneira que até sua arquitetura foi planejada para confundir os "indesejados". Conforme palavras do Abade:
A biblioteca nasceu segundo um desenho que permaneceu obscuro a todos durante séculos e que a nenhum monge é dado conhecer. Somente o bibliotecário é que recebeu o segredo do bibliotecário que o precedeu, e o comunica, ainda em vida, ao ajudante-bibliotecário, de modo que a morte não o surpreenda, privando a comunidade dessa saber. (...) Somente o bibliotecário, além de saber, tem o direito de se mover no labirinto dos livros, somente ele sabe onde encontrá-los e onde guardá-los (...). Somente ele decide como, e se deve fornecê-lo ao monge que o está requerendo, às vezes após ter-se consultado comigo.
O livro em questão - suspeitamos em pouco tempo de leitura - é o segundo da Poética de Aristóteles, dedicado a Comédia (tão desprezada por Jorge de Burgos, por estimular o riso entre aqueles que deveriam cultivar a seriedade e o temor diante de Deus e da própria vida), considerado perdido ou nunca escrito. E, talvez, trate-se da última cópia existente. Como dito por Jorge, ele tem o "poder de mil escorpiões", tanto pelo conhecimento contrário à fé católica (ou, ao menos, crítico de alguns aspectos de tal fé) quanto pela fato de suas páginas estarem envenenadas, meio coladas, precisando que o monge passe-lhe saliva com os dedos e, com esses movimentos repetidos, acabe ingerindo o unguento e, consequentemente, falecendo.

O romance foi adaptado para o cinema em 1986 e isso, sem dúvidas, ajudou a popularizar o romance. A direção de Jean-Jacques Annaud soube como aproveitar tantos elementos de um romance erudito e levá-los à tela, numa trama de suspense envolvente, que cativou públicos diversos. A produção de arte é impecável. Aliás, para a constituição da abadia (cujo nome não é dito na obra), o diretor Jean-Jacques Annaud consultou um dos mais respeitados medievalistas do mundo: o francês Jacques Le Goff. As atuações são excelentes, em especial a do único grande astro hollywoodiano entre os competentes atores: Sean Connery. Christian Slater, ainda quase estreante, também merece reconhecimento.

Não é fácil produzir uma adaptação cinematográfica que agrade ao leitor, ainda mais tratando-se de Umberto Eco, onde o desfile de erudição não é comedido. Costumo dizer que o cinema, naturalmente, retira de uma obra literária toda sua parte adjetiva, mantendo tão somente a substantiva. Explico melhor. Enquanto o autor do romance (ou conto) tem nossa disposição por tempo ilimitado para discorrer sobre a natureza de um personagem, nos narrando seu estado emocional em minúcias e até mesmo esmiuçando seus pensamentos e sentimentos mais íntimos, por palavra, o cinema (ou televisão) não tem. Nestes últimos, temos que apreender o estado espiritual do personagem através de ações e expressão. A tentativa de narrar essas características deixa o filme enfadonho e até mesmo pueril, transformando-o numa antiga fotonovela. Enquanto, na obra cinematográfica, por exemplo, uma vítima de serial killer é apenas mais um figurante que deu azar, na obra escrita é alguém com vida pessoal, afetiva, profissional, com aspectos emotivos. Um exemplo que me socorre, agora, é a adaptação de O Xangô de Baker Street, de Jô Soares, para as telas por Miguel Faria Júnior. Ali, cada vítima do livreiro maluco é um mero transeunte; enquanto, na obra original, o autor nos fala sobre ela, às vezes intimamente. Jean-Jacques Annaud e os quatro roteiristas do filme souberam disso e conseguiram narrar, justamente, o essencial à ação e à compreensão do tema central presente na obra impressa.

Diante da necessidade de cortar muita coisa, vários momentos relevantes para se compreender o âmago dos assassinatos foram suprimidos. No romance, compreendemos como a biblioteca é o ponto central de toda a política da abadia. No livro, descobrimos que tanto Abade Abbone quanto o bibliotecário Malaquias foram inseridos em seus posto por empreendimento do aparentemente inofensivo Jorge de Burgos. Este deveria ser o próximo bibliotecário, mesmo que a oposição dos italianos a estrangeiros fosse grande. No entanto, ao quase tomar o lugar de outro potencial candidato (o velho e caduco Alinardo), começou a perder a visão e apressou-se a deixar, no local, um ambiente que lhe favorecesse, com a escolha dos cabeças que melhor lhe servissem. Malaquias e Abbone tornaram-se seus "fantoches", por assim dizer. A última grande aquisição de livros foi realizada por Jorge, quando ainda jovem e assistente do bibliotecário anterior. E todas essas informações auxiliaram frei Guilherme descobrir quem foi o responsável por todos os fatos "formidáveis" ocorridos nos últimos dias. Na província de Burgos e arredores era costume utilizar, ao invés do pergaminho mais tradicional, a charta lintea, uma espécie de tecido. E o livro cerne de todos os infortúnios possuía essas páginas delicadas, o que foi atestado pelo herborista Severino, que o teve brevemente em mãos.

Entre as melhores cenas, destaco o momento que a imensa biblioteca (uma das maiores da cristandade) é tomada pelo fogo e Guilherme tenta, às pressas, selecionar alguns tomos para salvá-los. Todavia, se dando conta de que seu esforço é inútil e apenas fruto do desespero, apenas olha em volta com ar de lamentação e abaixa a cabeça, em sofrimento. Ótima atuação de Sean Connery!

Minha edição é da editora Record: brochura com papel bom para se ler (amarelado, o que não cansa a visão) e com fonte até grande, embora com pouca margem. São 576 páginas traduzidas por Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade, dois competentíssimos acadêmicos. No entanto, recomendo que comprem a edição em capa dura com sobrecapa da Folha de S. Paulo, vendida em vários sebos por até R$ 10,00. Vi dezenas de ofertas no Estante Virtual. O trabalho da Folha para a coleção de sua Biblioteca foi muito bom e a tradução também é dos dois acadêmicos citados (salvo engano).

Sei que essas postagens longas sobre livros fora de moda não chamam atenção. Mas achei interessante divulgar um pouco da produção ficcional de Umberto Eco e, mais à frente, postarei uma resenha sobre seu último romance: O Cemitério de Praga (2011). Quem quiser boa literatura e um pouco mais de "conteúdo" em sua vida intelectual, leia este grande autor vivo.

Abaixo, algumas imagens das edições nacionais mais recentes pela Record, cenas do filme de 1986 e o mapa, em inglês, da abadia (também presente na edição nacional, devidamente traduzido).

Abadia e prédio da biblioteca.
Minhas obras de Eco.
Baubolino é o único com sobrecapa e O Pêndulo... o único sem orelhas.
A eficiência da Santa Igreja em torturar.
Hellboy vestido de monge.
Quase uma Ofélia.
A belíssima estética medieval de Jean-Jacques Annaud.
A destruição da biblioteca me faz recordar de Alexandria.
Eco chupando fumaça e mandando recado.

A biblioteca de Keith Richards

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Compartilhei aqui a gigante biblioteca do gigante Neil Gaiman e, na postagem anterior, falei sobre o papel dos livros em O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Esses dias, topei com imagens da biblioteca octogonal do dinossauro Keith Richards, em sua casa londrina. Sou grande fã da música dos Stones; mas os admiro sobretudo pela capacidade de sobrevivência artística e até mesmo física. Pôxa, esses caras tinham tudo para estar mortos há muito tempo. Contra todas as expectativas, estão firmes e cheios de fôlego. Mas só quem partiu jovem foi mesmo o Brian Jones, afogado na piscina de sua mansão por causas até hoje incertas. Imagino essa coleção do Keith Richards: metade de obras pornográficas e a outra metade dedicada ao satanismo. E tudo com cheiro de alcatrão, "pó" e - dizem as más línguas - enxofre. Bobagens à parte, salve Richards, gênio e monstro do Rock!

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E aí? Quer comprar um pacote de e-mails?

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Depois que criei um blog para distrair o juízo, passei a receber alguns e-mails de editoras solicitando que eu divulgue publicações. Geralmente, esses pedidos vêm acompanhados com imagens e um press releases. Sei que alguns colegas costumam fazer essa favor aos editores; eu, não. Não posso divulgar algo que desconheço, nem vou com a cara da grande maioria das editoras e tampouco com as pessoas que estão à sua frente. Mas fico pensando como é que os caras acham normal pegar seu e-mail para esse tipo de coisa. O pior é que minha caixa de entrada vive cheia de spam, mesmo com grande parte indo para o filtro. Além desse convites indecentes, ainda recebo tudo o que é mensagem de produto e serviço que não me interessam. Como isso acontece? Como é que os caras saem por aí catando endereço eletrônico para encher nosso saco? A gota d'água são as ofertas de pacotes de e-mails. Já há grupos especializados em catar endereços, testá-los, inserir tudo numa lista e vender. A oferta que mais me chamou atenção, até o momento, foi a do print acima: até 6,5 milhões de endereços apenas do Estado de São Paulo! Não é de se estranhar porque está tão difícil manter nossa caixa de entrada sob controle! O site que me enviou a proposta acima é este: http://www.pacotedeemails.com.br. Quem estiver interessado, entre em contato. Talvez, nessas listas, eles também lhe vendam seu próprio e-mail. :-P

Balada para Satã, de Fred Mustard Stewart [Romance]

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Capa feia de meu exemplar.
Comprei Balada para Satã, escrito por Fred Mustard Stewart, em um sebo. Não encontrei reedições recentes à venda. Mesmo que encontrasse, não compraria, pois prefiro adquirir livros em sebos, usados, em bom estado e a preços módicos. É quando podemos dar uma banana às editoras, às vezes bem sacanas conosco, leitores. Além disso, dá um certo prazer ler algo que já foi lido por outra pessoa, que já pertenceu a outro leitor. A edição deste livro é de 1973, da editora Mundo Musical (a qual, creio, nem mais existe), traduzida por Affonso Blacheyre. A versão original, norte-americana, é de 1969.

Gostei bastante do romance, curto (pouco mais de duzentas páginas), sem embromação, e, principalmente, sem sensacionalismos e fórmulas mágicas para vender mais. São poucos os autores que conseguem sugerir mais do que dizer. Durante toda a leitura, desconfiamos de tudo. Ficamos entre os aparentes delírios da protagonista e um possível complô oculto que pode ter levado à morte seu marido e filha.

Na trama, Paula Clarkson é esposa de Myles, antigo músico fracassado e esforçado jornalista freelancer tentando fazer a vida, também, como escritor de novelas. Ambos tem uma pequena filha, Abby, e dão duro para pagar as contas de cada dia. Até que surge uma oportunidade para Myles entrevistar Duncan Ely - renomado pianista, avesso a entrevistas e à exposição. No primeiro contato com este prestigioso músico, Myles se torna seu amigo, bem como de sua filha única, Roxanne. Paula, por sua vez, nunca gostou dessa proximidade. Poucos meses após a amizade, Duncan falece de leucemia e, nos momentos final da vida, participa de um possível culto religioso. De herança para Myles, deixa um grande piano Steinway e cinquenta mil dólares (para a época, dinheirão; para mim, ainda hoje o é). Imediatamente, Paula nota mudanças em seu marido – ele se tornara mais “refinado” e volta a tocar piano de uma maneira impecável, informando que ganhará a vida, agora, como músico. Abby falece de uma maneira repentina, após anunciação em sonho sua mãe (ou seria mera coincidência tal "aviso"?). Paula se convence de que Duncan Ely não morreu, mas apenas transmigrou sua alma para o corpo de Myles e, a partir daí, seu estado de paranoia apenas cresce e dá corpo à história, lembrando bastante o ritmo narrativo de O Bebê de Rosemary, de Ira  Levin, adaptado para o cinema por Roman Polansky.

O grande mérito de Fred Mustard Stewarté nos deixar, durante quase as duzentas páginas, em estado de tensão, sem saber em que acreditar. Por mais que as pistas pareçam claras, outros elementos são espalhados no romance para demover o que pareceu, inicialmente, óbvio. Apenas nos momentos finais do romance as pontas são amarradas e o quadro “parece” mais ou menos nítido. Mesmo assim, ainda após o último parágrafo da obra, ficamos com aquela de sensação de “será?”, aliada à satisfação de ter lido um ótimo romance, daqueles que nos prendem do início ao fim, de forma dinâmica - sem ser desleixada - e com personagens que ficarão vivos em nossa memória por muito tempo.

Gostaria de falar mais sobre o livro. No entanto, estragaria a leitura para quem pensa em adquiri-lo. Podemos, ao menos, comentar alguns elementos da obra. Acerca da escolha do título (The Mephisto Waltz) pelo autor, parece outra ambiguidade. Aparentemente, se deve em razão das “Valsas Mefisto”, de Franz Liszt , executadas diversas vezes no decorrer do romance. Mas, por outro lado, também alude ao estado de paranoia de Paula, certa de que lida com pessoas que se submeteram a Satã como forma de obter fama e vida longa. Deparamo-nos, em cada capítulo (quatro “Partes” com subdivisões), com referências culturais da época: telas de Andrew Wyeth (cujo trabalho conheci lendo a HQ Preacher de Garth Ennis), as esculturas estúpidas e caríssima de Giacometti, a “voga” do surrealismo em geral, hippies e práticas “religiosas” excêntricas entre os ricos. A indicação da bibliografia satânica é bem interessante. O autor ao menos se deu ao trabalho de pesquisar. Dela, o volume mais destacado é O Livro dos Chamamentos, “compilação de fórmulas místicas e palavras antigas, feita por  Matthew Hopkins, no ano de Nosso Senhor, 1647. Editado por Lord Cheatham. Londres, 1835”.

Foi neste romance que, pela primeira vez, vi colocações interessantes sobre o crescimento de seitas secretas contrárias ao cristianismo a partir da Idade Média, da maneira que transcrevo abaixo os argumentos do personagem Bill de Lancre: “A igreja medieval se tornara tão opressora que milhares de pessoas passaram a encará-la como uma espécie de mal, enquanto a imagem invertida do cristianismo, o satanismo, adquiria a reputação de ser uma alegre glorificação das coisas da natureza e naturais, em confronto com a condenação à natureza, implícita nos ensinamentos da igreja”.

Um ótimo livro que recomendo. Leitura rápida, porém inteligente. Já foi adaptado para o cinema em 1971 com a belíssima Jacqueline Bisset no elenco. Entretanto, ainda não o assisti.

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